No episódio #EP7 da segunda temporada do Safety Cast, o anfitrião Thiago Avelino, CEO da Safety Tec e fundador do portal Consulta.CA, recebeu Renan Fuchs, diretor da Qualiflex, para uma conversa aprofundada sobre os desafios e particularidades do mercado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) voltados para ambientes de baixa temperatura e para a indústria alimentícia.

Ao longo do episódio, Renan compartilhou a trajetória da Qualiflex, destacou inovações técnicas, apontou problemas recorrentes do setor e reforçou a importância da seriedade e transparência na produção de EPIs.

Da fundação às câmaras frias

A Qualiflex foi fundada no ano 2000 por Marcos Fuchs, pai de Renan, inicialmente com foco na produção de luvas pigmentadas e emborrachadas. A virada para o segmento de frio começou em 2007, quando Renan ingressou na empresa.

Com uma visão jovem e digital, ele trouxe a aposta em Google Ads e presença online robusta, substituindo o modelo tradicional de anúncios em revistas. A estratégia rendeu crescimento acelerado e ajudou a consolidar a linha de produtos para câmaras frias.

Renan lembra também a filosofia da empresa, de sempre optar pelo melhor: “O ambiente de frio é muito severo.” Foi assim que a Qualiflex deixou de lado materiais como aço e PVC para calçados térmicos, optando por tecnologias como microfibra e biqueira composite, mais seguras e eficientes para ambientes refrigerados.

Qualidade como diferencial competitivo

Segundo Renan, a escolha pela qualidade sempre norteou a empresa — mesmo com custos mais altos que a média do mercado.

Essa postura gerou fidelização de clientes e contribuiu para a liderança atual: “Hoje, alguns números mostram que temos o maior market share desse mercado frigorífico.”

Thiago reforçou essa percepção, destacando que a Qualiflex se consolidou como referência em proteção térmica, a ponto de se tornar sinônimo de categoria: “Quando você fala sobre produto para alimentação ou uso em baixas temperaturas, eu lembro de Qualiflex. Eu não lembro de nenhum outro.”

EPIs são barreiras temporárias: a proteção completa

Ao falar das características de um EPI especial para frio, Renan explicou que o kit deve proteger o corpo inteiro, com atenção especial às extremidades.

“Não negligencie pé. Dê uma meia de qualidade, coloque uma bota com forro de lã. Porque –5 é frio pra caramba!”

Ele destacou a norma EN 342, que considera variáveis como tempo de exposição, velocidade do vento e esforço físico. O EPI funciona como barreira para manter a temperatura corporal em torno de 36 °C, mas em algum momento o frio passa — daí a importância de um conjunto completo de japona, botas, luvas, balaclava e demais itens.

Renan Fuchs, Diretor da Qualiflex, no Safety Cast

Na concepção técnica, os EPIs de frio se diferenciam pela espessura da manta termo-isolante e pela criação de uma barreira de ar aquecida pelo próprio corpo, funcionando de forma semelhante a um edredom. Tecidos como o ripstop aumentam a durabilidade, enquanto forros flanelados oferecem conforto térmico.

Gestão e controle: muito além da entrega

Um dos pontos mais discutidos no episódio foi a gestão da vida útil dos EPIs.


Renan lembrou que vestimentas térmicas possuem camada hidrorrepelente, que se perde com o tempo e lavagens sucessivas. Laudos do IPT indicam durabilidade de até 100 ciclos de lavagem — aproximadamente dois anos de uso. Após esse período, mesmo que a peça pareça em bom estado, a proteção contra o frio é comprometida.

Por isso, Renan defende que empresas implementem fichas de reavaliação periódica, em complemento às fichas de entrega, para verificar costuras, zíperes e conservação geral. Esse controle documentado reduz riscos trabalhistas e assegura que o trabalhador esteja sempre devidamente protegido.

Thiago complementou destacando ferramentas digitais como o Busca EPI, que ajudam a monitorar higienização, validade e certificados de aprovação, emitindo alertas para substituição preventiva. Esse planejamento evita compras emergenciais e garante previsibilidade para compradores e fornecedores.

EPIs e segurança alimentar: risco zero de contaminação

Outro ponto levantado por Renan foi a relação direta entre EPIs e segurança alimentar.
Ele destacou que aviamentos como botões, zíperes, velcros e cordões representam riscos de contaminação em indústrias que manipulam alimentos in natura.

Para mitigar esse risco, a Qualiflex chegou até a desenvolver japonas fechadas, sem costuras externas e sem aviamentos, garantindo zero possibilidade de contaminação.


“Hoje, com rede social, você queima sua marca por causa de uma escolha muito boba.”

Essa preocupação é especialmente relevante para pequenos fabricantes regionais, que muitas vezes compram EPIs básicos em revendas locais sem considerar os riscos para sua operação e reputação.

O desafio da fiscalização e a seriedade necessária

Entre os maiores desafios do setor, Renan apontou a falta de fiscalização como o problema central.


Segundo ele, práticas como usar o mesmo CA para diferentes produtos ou superdimensionar peças apenas para homologação prejudicam técnicos de segurança e consumidores.


“O consumidor é enganado. Ele homologa um CA com uma característica tal e acha que está consumindo um produto bom, mas está recebendo um inferior.”

Thiago reforçou a gravidade do problema, explicando que, nesses casos, trabalhadores acreditam estar protegidos, mas continuam vulneráveis. Ambos defenderam a necessidade de auditorias periódicas por parte do Ministério do Trabalho.

Renan também destacou o investimento da Qualiflex em múltiplos CAs específicos: só na linha de japonas, a empresa possui seis certificados diferentes, cobrindo cada gramatura de manta térmica — um diferencial de transparência e seriedade frente a concorrentes que utilizam apenas um CA para várias variações.

Uma lição de mercado

Renan encerrou a entrevista com uma história curiosa: um grande frigorífico reclamava de uma japona supostamente da Qualiflex.


Após testes técnicos, descobriu-se que o produto era de outro fabricante e possuía apenas 100 gramas de manta, quando o CA indicava 300 gramas. O episódio serviu de prova para o cliente e reafirmou a confiança na Qualiflex.

“Quando você acredita no que você faz, sabe que faz com qualidade, você vai tranquilo.”

Conclusão

A entrevista no Safety Cast evidenciou não apenas a trajetória e os diferenciais técnicos da Qualiflex, mas também os desafios que ainda precisam ser enfrentados no mercado de EPIs no Brasil.

Ficou claro que, diante de um setor marcado por práticas irregulares e falta de fiscalização, a Qualiflex se destaca por investir em qualidade, inovação e transparência, oferecendo soluções que protegem não só os trabalhadores em ambientes de frio extremo, mas também a integridade das operações e das marcas atendidas.